A vitória do Flamengo por 1 a 0 sobre o Ceará, nesta quarta-feira, não apenas arrematou o título do Campeonato Brasileiro, como também o colocou na mesma prateleira que o Santos de Pelé. Isso porque somente três clubes brasileiros tiveram a chance de conquistar o torneio nacional e a Libertadores no mesmo ano — além do time liderado pelo Rei do Futebol, também o próprio rubro-negro, em 2019, e o Botafogo, em 2024 —, mas apenas o Peixe havia sido capaz de realizar o feito duas vezes (1962 e 1963).
Com o gol de Samuel Lino, a equipe comandada por Filipe Luís se tornou nove vezes campeã do torneio nacional.
Aliás, o que era visto como uma missão quase impossível, que permaneceu intocável por mais de 55 anos, está se tornando cada vez mais frequente. A dobradinha ocorre pela terceira vez em sete anos.
Algumas mudanças no formato do torneio continental e no contexto dos clubes da América do Sul foram fatores que ajudaram os times brasileiros a terem mais presença no torneio, na visão do apresentador do Redação Sportv e colunista do GLOBO, Marcelo Barreto.
— Quando a Libertadores passa de semestral para anual, ela perde um pouco da característica de torneio de “surpresas”. Os times brasileiros têm mais chances de se recompor e, por incrível que pareça, conseguem se adaptar um pouco melhor ao calendário. Antes era ainda pior — diz Barreto.
Esta mudança coincidiu também com o fortalecimento econômico de alguns times brasileiros. Especialmente de Flamengo e Palmeiras, mas também com o crescimento das SAFs no futebol, como as de Atlético-MG e Botafogo. Com isso, os clubes se descolaram da realidade de outras ligas no continente.
— A formação de elencos, a continuidade de equipes e critérios mais definidos de contratações fazem com que se mantenha o melhor nível (de um clube) por mais tempo. Os jogadores se entrosam mais e se identificam com o clube — diz o comentarista do Sportv, Rodrigo Coutinho.
Já Barreto ressalta que “clube com muito dinheiro ganha o direito de errar porque pode repor as peças”.
Fluminense é 'surpresa'
Ampliando um pouco mais o leque, é possível considerar a campanha do Palmeiras em 2020 — quando conquistou a Libertadores e também a Copa do Brasil — como igualmente imponente.
Já o Atlético-MG também fez temporada de destaque em 2021, ao faturar a Copa do Brasil e o Brasileirão, e terminar a participação na Libertadores nas semifinais, quando perdeu para o campeão da edição: o próprio alviverde.
Ainda assim, o efeito surpresa citado por Barreto também pôde retornar com o Fluminense em 2023.
— Quem escapa desses dois modelos (Flamengo e SAFs) é o Fluminense. O clube teve uma boa temporada, organizada, e foi campeão.
No entanto, para Barreto, o poderio econômico dos clubes brasileiros ainda está longe de ser alcançado:
— Hoje a gente tem o River Plate tentando enfrentar financeiramente os grandes brasileiros, mas não vejo nada num horizonte próximo que indique uma mudança — concluiu.
